terça-feira, 17 de junho de 2008




Até hoje, há entre a crítica literária muita gente que torce o nariz para os poetas e músicos marginais, por ver neles um pessoal desinformado e excessivamente espontaneísta. Nikolas Behr, que, de desinformado não tem nada, já deu uma resposta com ginga: que gosta mesmo é da poesia e música rala.


Chacal é Bundamental

sou trocador de ônibus.
tenho 35 anos e quero me casar.
ter mulher, filhos, um lar.
meu nome é bundamental.
uma tarde, o coletivo parounum ponto da praça seca.
subiu uma moça que era um sonho.
branca, peluda, dentes bons.
e que perfume!
meu nome é bundamental.
quando passou na roleta, num ímpeto súbito,
a pedi em casamento.
meu nome é bundamental.
genival bundamental
ela olhou pra mim e disse sim.
ali mesmo por cima da roleta
entre os passageiros, um beijo
selou nosso pacto sagrado.
meu nome é genival bundamental.
cuidei de tudo.
alianças, igreja, padre, cerimônia.
no dia fatal, meu nome é genival,eu lá.
eu e o padre.
ela nada.
uma hora duas nada.
enfim, chega o sacristão com um bilhete.
“querido bundamental
fui feliz enquanto amor entre nós houve.
agora vou ser feliz com um pé de couve.
daquela que um dia foi seu poema,
maria helena.
ps: a vida é curta para ser pequena.”
meu nome é genival.

genival bundamental.
De Belvedere, antologia de Chacal a sair pela Cosacnaify

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